“A imagem do beijo, enquanto fusão das duas imagens numa só.” - Roland Barthes
Em O Banquete, Platão expõe o mito do Andrógino, de Aristófanes. Segundo este mito, cada homem era originalmente uma esfera. Havia-as de três tipos: macho, fêmea e andrógino, contendo este último os outros dois tipos. Tinha quatro mãos, quatro pernas, dois rostos numa única cabeça e dois órgãos genitais. Assim equipados, possuíam uma força imensa que os impeliu um dia a escalarem até ao céu para darem combate aos deuses. Os deuses ficaram embaraçados. Então, Zeus cortou-os em dois.
Mutilados de metade de si mesmos, os homens tentaram, então, desesperadamente recuperá-la, abraçando-se, enlaçando-se um no outro.
O que este mito nos ensina é que o Homem é um ser incompleto que tem de se lançar em busca da sua “metade da laranja” de modo a recuperar a integridade. Nesta perspetiva, o prazer sexual iria não apenas incitá-los à reprodução, mas deveria sobretudo dar-lhes um modo de aliviarem a dor da perda. O orgasmo surgiu como momento de efémero esquecimento de si próprio na memória permanente da incompletude que nos aflige. Um momento de suspensão extática e vital.
Assim, na ausência amorosa somos, tristemente, uma “imagem deslocada”, que seca, amarelece, se encarquilha. Uma metade da esfera que não se torna redonda.