"Aquilo que coloca a arte numa posição oposta às outras actividades humanas parece-nos ser o seu carácter "não figurativo". Pois que até a Arte mais simples - a Arte infantil ou demente e mesmo a Arte trivial - é ainda transfigurativa na medida em que ultrapassa a realidade vulgar por meio de uma idealização, por mínima que seja. Não é a realidade pura, mas uma realidade revista e corrigida pelo homem que aparece nela através da Arte. (...) Para que a arte fosse totalmente realista seria preciso suprimir o autor. Já não haveria saltimbancos desnudos, nem candeeiros acesos em pleno dia. (...) Se tivesse sido idêntica ao real, a arte já não seria artística. (...) Que se diga que a arte é transposição ou simbolização, evasão ou ultrapassagem, pouco importa. É sempre a passagem de uma realidade vulgar para um mundo sobre-real que ela instala numa existência autónoma. Se assim for, eis o critério encontrado: é precisamente o grau de transfiguração. Quanto mais a obra fica terra-a-terra menos é obra de arte. Quanto menos ela é natural mais é artística."
HUISMAN, Denis, A Estética, Edições 70
(Ver ARTE)