Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos,
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso, quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos
Tal como para Alberto Caeiro, para o filósofo David Hume todas as nossas ideias, mesmo as mais complexas, têm origem nas impressões sensíveis. "Nada está no intelecto que não tenha estado primeiro nos sentidos". Quando, por exemplo, ouvimos o som de uma campainha, ou cheiramos uma flor, temos a impressão do som produzido pela campainha ou do odor da flor. Quando, mais tarde, nos recordamos do som da campainha ou do odor da flor, temos a ideia do som e do odor. A impressão é o estado de espírito que se experimenta perante um estímulo; a ideia é a representação que a nossa memória pode fazer de uma impressão já vivida.
Significa isto que, para Hume, a impressão nos dá a realidade, ela é a própria realidade. Ao invés, a ideia só tem valor de verdade se proceder de uma impressão.