RODIN, O Beijo
É incontornável a influência que Platão exerceu nos valores e no panorama intelectual do ocidente ao ponto de Alfred North Whitehead ter considerado que “Toda a filosofia ocidental não passa de notas de rodapé das páginas de Platão”.
Uma dessas influências é visível na forma atual de conceber o amor.
Como é referido por Simon May (O Amor, das Escrituras aos Nossos Dias, Bizâncio), “a conceção (platónica) da ascensão do amor físico ao divino formou a história do amor ocidental”.
Em primeiro lugar, a sua conceção do amor contribuiu para “criar a base para fazer do amor o caminho para o valor supremo, para as benesses da mais alta beleza e bondade (…), para o que é puro e eterno”, visível na forma como o Cristianismo faz do amor o valor supremo do mundo Ocidental.
O enfoque de Platão na dimensão espiritual do amor é correlativo da sua desvalorização do Mundo Sensível, um mundo de sombras, povoado por almas encarceradas em corpos mortais. Por isso “filosofar é aprender a morrer”, como afiança o filósofo (Fédon). Também é correlativo do seu desprezo atribuído ao corpo e aos sentidos, enquanto fonte de conhecimento erróneo e ilusório. Uma das poucas utilidades dos sentidos é, na perspetiva do filósofo, servirem de estímulo à evocação das Ideias outrora contempladas no Mundo Inteligível.
A desvalorização da vida terrena e corpórea – por parte do cristianismo e da filosofia platónica – será alvo de incisiva crítica encetada por Nietzsche (A Origem da Tragédia).
Por outro lado, a conceção platónica do amor traduz-se na ideia de que “o desejo sexual pode estar no início do caminho para o amor mais elevado, mas não é com ele que tem a ver o amor mais elevado”. Assim, o sexo é um meio mas não é o fim.
Por fim, “a terceira ideia platónica que ainda temos é a ligação entre amor e imortalidade”. O amor será, nesta perspetiva, “o passaporte para a imutável essência da beleza e da bondade. Será, enfim, superação do efémero e do sofrimento, do acaso e do mal.