Campo de Concentração de Auschwitz
"Chegamos a uns prados cheios de flores. Vimos e compreendemos que estavam diante de nós, mas não sentíamos nada. A primeira centelha de alegria chegou quando vimos um galo com uma cauda de penas multicolores. Mas foi só uma centelha; ainda não pertencíamos àquele mundo. Ao fim da tarde, quando nos encontrámos novamente na caserna, um dos presos disse a outro em segredo: "Diz-me uma coisa, hoje sentiste-te satisfeito?"
E o outro respondeu, sentindo vergonha porque desconhecia que todos sentíamos o mesmo: "Para dizer a verdade, não!"
Tínhamos, literalmente, perdido a capacidade de sentir contentamento e tínhamos de o reaprender lentamente".
É desta forma que Viktor Emil Frankl, em O Homem em Busca de um Sentido, descreve os dias que antecederam a libertação dos prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz.
De acordo com o autor, o que se estava a passar com os prisioneiros libertos podia chamar-se "despersonalização". Tudo parecia irreal, improvável, como num sonho. Os prisioneiros não conseguiam acreditar que era verdade.
Defendendo a tese segundo a qual a saúde mental está fundada num certo grau de tensão entre o que já realizámos e aquilo que ainda queremos alcançar, ou o espaço entre o que somos e aquilo que pretendemos vir a ser - e não num estado de equilíbrio, num estado de homeostasia, como normalmente se postula -, Frankl narra, na primeira parte do livro, a sua dramática luta pela sobrevivência enquanto priosioneiro e, na segunda parte, expõe o seu método de psicoterapia: a logoterapia.
Frankl descobriu que os sobreviventes eram aqueles que criavam para si próprios um objetivo, que encontravam um sentido futuro para a existência.