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Jul 13

As nossas sociedades caracterizam-se por uma pluralidade de desigualdades.

O sociólogo sueco Goran Therborn propõe uma perspetiva teórica multidimensional das desigualdades sociais contemporâneas.

Identifica três dimensões de desigualdades sociais:

 

a) desigualdades vitais;

b) desigualdades existenciais;

c) desigualdades de recursos.

 

A desigualdade social constitui um facto incontestável. Tal facto não deixa ninguém indiferente.

O trânsito do plano do Ser ao plano do Dever-Ser, do plano da realidade ao plano da idealidade, constitui a transição do vivido ao pensado.

Como deverá ser uma sociedade perfeita - ou menos imperfeita?

São vários os autores que abordam essa questão, propondo reflexões diversas. 

 

Segundo Mahatma Gandhi, "tudo o que comemos sem necessidade é roubado ao estômado dos pobres".

Fernando Savater, filósofo espanhol, corrobora das palavras de Gandhi.

Segundo este pensador, surge uma sensação de repugnância diante da imensa quantidade de milhões que morrem de fome, enquanto um grupo de privilegiados morre de indigestão.

 

Porém, será legítimo defender a ideia de que o excesso de uns de certa maneira é causa de privação de outros?

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 00:33

Tudo levaria a crer que a conclusão proposta faz sentido.
Quer-me parecer, porém, que o cerne da questão não deve estar na riqueza, mas na pobreza. Isto é: enriquecer sem desonestidade não é crime.(Claro que este argumento leva-nos a outras questões). No entanto,há fortunas excessivas, se bem que, situações difíceis de definir por falta de referências. No meu entender, toda a fortuna capaz de só por si poder resolver a ofensa à dignidade humana num determinado país é imoral.
A miséria económica ofende profundamente a dignidade humana (isto levanta outras questões). A diferença entre miséria e pobreza, no senso comum é maniqueista.
Quais são as necessidades mínimas que assegurem a dignidade do ser humano no nosso século? Que tipo de residência? Um automóvel? de que tipo? Uma bicicleta? Poder fazer férias onde? Quantos filhos? Etc.
A satisfação das necessidades mínimas assegura o bem estar. Definição de bem estar? Limitar-se-á ao direito à vida?
As pessoas, quanto mais têm, mais querem. Quem tem vida quer mais vida.
Há que chegar a consensos. Tenho para mim que há uma diferença qualitativa entre "dignidade de vida", "bem-estar social" e "felicidade". Uma coisa pode gerar a outra. Poderia Cavaco Siva apresentar-se envolvido num lençol e sentado no chão? Claro que sim, mas não gostava. Penso ainda que a declaração dos direitos humanos não é exaustiva.
A igualdade possível é a morte. Ninguém a quer.
Rui Represas a 26 de Julho de 2013 às 13:12

Agradeço o seu exaustivo comentário.
Partilho, consigo, a ideia de que a igualdade, num sentido absoluto, nem sequer seria desejável.
Porém, há factos que nos fazem pensar.
Quando, por exemplo, em Moçambique uma mulher dá à luz uma criança, a sua esperança média de vida aproxima-se dos 48 anos. Caso tivesse nascido em Portugal, a expectativa de vida dessa mesma criança – excluindo possíveis fatores genéticos – rondaria os 80 anos. Trata-se de uma desigualdade “vital” – na terminologia de G. Therborn – gritante. Uma desigualdade que não será independente de outras dimensões de desigualdades, como as desigualdades de rendimentos, de escolaridade, de competências cognitivas, etc.
Ainda segundo Therborn, fenómenos como a escravatura ou o racismo constituem algumas das manifestações das desigualdades existenciais. Ainda no âmbito das desigualdades existenciais, poderíamos incluir certos sistemas de estratificação social, como as castas na Índia, que, associados a preconceitos de carácter religioso, conduzem inevitavelmente à mais abjeta discriminação de vastos grupos sociais.
Por isso, as desigualdades constituem um facto (social) indiscutível e nem sempre se devem a desigualdades de recursos. Muitas vezes, as desigualdades parecem estar na dependência direta de elementos culturais, como a religião e outras crenças ancestrais. Ciências Sociais, como a Sociologia, revelam-nos tais desigualdades. Porém, o sociólogo não se imiscui nos valores e nas culturas, nem profere juízos de valor, considerando que os valores e as culturas são relativos.
Penso que é aqui que entra em campo a filosofia.
Se num país muçulmano, por motivos sócio culturais perfeitamente identificados, se pratica a excisão genital feminina, caberá ao filósofo interrogar se, em nome da tolerância e do relativismo cultural tal prática é defensável.
Terá que encontrar a “linha” que separa o aceitável do inaceitável.
Poderá encontrá-la no critério da dignidade humana.
Qualquer desigualdade (vital, existencial ou de recursos) que atente contra a dignidade humana será, de acordo com esse critério, inaceitável.

Carlos JC Silva

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