«Em suma, queres saber "onde está a felicidade?" / -Se quero!!…/ - Está debaixo de uma tábua, onde se encontram cento e cinquenta contos de réis.»
Editado em 1856, o romance de Camilo Castelo Branco Onde Está a Felicidade? é um retrato fiel da sociedade da época, caracterizada pela importância do dinheiro e do estatuto como forma de promoção social.
Será o dinheiro sinónimo de felicidade, como se insinua no romance de Camilo?
Definida como “o bem supremo do Homem”, torna-se oportuno inquirir em que tipo de bem ela consiste.
Em Tratado da Felicidade, Manuel de Góis – um jesuíta que lecionou no Colégio das Artes, em Coimbra – considera que “há três tipos de bens – os bens exteriores, os bens do corpo e os bens da alma”.
Os bens exteriores são sobretudo as riquezas, a autoridade, a honra e a glória.
Os bens corporais são essencialmente os prazeres sensíveis: a saúde, a beleza e a robustez.
Os bens da alma consistem essencialmente numa atividade do espírito.
A razão pela qual os quatro bens exteriores não podem trazer a felicidade enquanto bem supremo do homem – refere Mário Santiago de Carvalho na Introdução do Tratado da Felicidade – reside na sua volubilidade ou labilidade: as riquezas são bens fortuitos que não dependem da razão; o poder é instável e não depende da vontade; a glória e a fama podem ser falaciosas, arbitrárias e não virtuosas; a honra não constitui em si o que caracteriza a felicidade, sendo por isso um bem mais superficial.