Por que razão devemos agir de acordo com princípios morais, ou seja, orientados por valores? Por que razão são eticamente reprováveis a mentira e a falsidade? Por que razão é o Homem um animal ético?
São questões deste género que conduziram Kant aos postulados da Razão Prática. Um desses postulados é o da existência de Deus, um pouco na linha daquilo que Dostoiévski, anos mais tarde, viria a afirmar: "se Deus não existisse, tudo seria permitido".
Pensa Kant: se o dever é absoluta e objectivamente certo, segue-se que as condições da sua possibilidade, também necessariamente o são. O imperativo categórico supõe verdades, sem as quais seria inconcebível, ou seja, supõe os postulados da razão prática, na terminologia de Kant.
O primeiro desses postulados é o da liberdade. Se devo, posso. Com efeito, sem liberdade não há obrigação. A liberdade humana é, pois, o primeiro postulado da razão prática.
Por outro lado, o ideal de perfeição que devemos querer, não se pode realizar nesta vida, o que supõe a imortalidade da alma - segundo postulado.
Por fim, concebemos uma relação necessária entre a moralidade e a felicidade. Ora, a natureza é incapaz de realizar plenamente esta união. Por isso, pensa Kant, tem de existir um ser superior à natureza, tão sábio que possa justamente avaliar o mérito do ser moral e que possa distribuir a felicidade de um modo exactamente proporcional à virtude. A existência de Deus é, pois, o terceiro postulado, uma vez que sem Ele a virtude não seria perfeitamente feliz.