Aborreço-me, é tudo. De vez em quando bocejo com tanta força que as lágrimas me correm pelas faces. Não ando desmazelado, pelo contrário: tomei banho esta manhã, barbeei-me. Mas quando considero todos esses pequenos actos de zelo não percebo como pude realizá-los: são tão vãos! Foram os hábitos, sem dúvida, que os realizaram por mim. Os hábitos, esses não morreram; continuam a apressar-se, a tecer devagarinho, insidiosamente, as suas tramas, a lavarem-me, a limparem-me, a vestirem-me, como amas. Terão sido eles que me conduziram ao alto deste outeiro?
Sartre, J.-P., A Náusea