"Todo o ser capaz de viver isoladamente, ou é um Deus ou uma besta, mas não um ser humano". Com estas palavras contundentes Aristóteles pretendia exprimir a natureza social do homem.
Com efeito, o homem isolado é uma abstracção e somente a comunidade permite realizar a perfeição da humanidade. Em suma, viver é "com-viver".
Ora, é do carácter social da natureza humana que emanam os problemas éticos. Para além dos diversos problemas com que o homem se depara, como os problemas técnicos, é na relação com o outro que surge a ética, como podemos constatar das seguintes palavras de Fernando Savater em Ética para um Jovem:
"Robinson Crusoé passeia por uma das praias da ilha onde o confinaram uma tempestade inoportuna e o subsequente naufrágio. (...) De súbito há um sobressalto que o detém. Ali, na areia branca, desenha-se uma marca que vai revolucionar toda a sua pacífica existência: a marca de um pé humano. (...) Enquanto está sozinho, Robinson enfrenta problemas técnicos, mecânicos, higiénicos ou até científicos. Do que se trata para ele é de salvar a vida num meio hostil e desconhecido. Mas quando se lhe depara a pegada de Sexta-Feira na areia da praia começam os seus problemas éticos. Já não se trata apenas de sobreviver; agora tem de começar a viver humanamente, quer dizer, com outros ou contra outros homens, mas entre homens. (...) O que interessa à ética é como viver a vida humana, a vida que decorre entre seres humanos."