(Grupo de Intocáveis recebendo alimentos de caridade)
É sabido que as crenças fazem parte do nosso quotidiano. Podemos mesmo dizer que é impossível viver sem crenças e que todo o conhecimento é composto por crenças.
Torna-se imperioso, no entanto, analisar os nossos conhecimentos no sentido de averiguar os seus fundamentos. Cabe à racionalidade esta tarefa crucial de distinguir as crenças verdadeiras justificadas das que apenas não passam de simples crenças, injustificadas, e que apenas servem para fundamentar e perpetuar práticas desumanas e atentatórias da dignidade humana.
Na Índia, por exemplo, a crença na transmigração das almas, associada à religião Hindu, implica um sistema de estratificação social baseado em castas que classifica os homens em categorias, fomentando a segregação e a discriminação social. Uma dessas categorias são os denominados Intocáveis. Para um intocável, membro da classe social mais baixa entre os hindus, há numerosas regras e proibições que abrangem desde o contacto físico com membros das classes mais altas à interdição de beber dos poços das aldeias. Agressões e linchamentos de intocáveis são frequentes perante o olhar indiferente das forças policiais. Marcado como impuro desde o dia em que nasce, um em cada seis indianos é intocável. Estas práticas fundamentam-se na crença religiosa de que esta casta acumula pecados e paga por vidas passadas.
A constituição da União indiana de 1950 aboliu oficialmente a segregação dos intocáveis. No entanto, o problema persiste.