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Séneca, filósofo da corrente estoica, afirmava que o homem é uma coisa sagrada para o homem.

A palavra "sagrado" tem a sua raiz no latim sacrum e diz-se, entre outras coisas, do que é inviolável, intocável.

Como poderemos (re) interpretar, no presente, a afirmação de Séneca?

É por demais sabido que na época do filósofo os parcos conhecimentos inviabilizavam o desenvolvimento de projetos científicos, nomeadamente, no âmbito da clonagem.

Porém, o que ontem era uma quimera tornou-se, hoje, uma possibilidade, em virtude dos “progressos” alcançados no domínio da ciência e da técnica.

De que se trata, afinal, a clonagem?

Antes de se esboçar uma resposta à questão, há que distinguir entre a clonagem reprodutiva e a clonagem terapêutica.

A primeira, significa criar um organismo geneticamente idêntico ao seu modelo. Para o alcançar, retira-se o núcleo a uma célula humana, no qual está contida a totalidade do material hereditário. Depois, procura-se um óvulo e retira-se-lhe o núcleo. Então, o núcleo da célula corporal é introduzido no óvulo desnucleado. O óvulo, assim manipulado, implanta-se no útero de uma mãe hospedeira e, decorridos nove meses, nasceria uma réplica “perfeita” do original – caso a experiência fosse bem-sucedida.

O segundo tipo de clonagem, a terapêutica, parte da ideia segundo a qual, com o auxílio de tecidos embrionários, pode ser possível criar órgãos, com o intuito de serem implantados em pessoas doentes.

Mais consensual do ponto de vista ético, a clonagem terapêutica não tem gerado o mesmo número de questões levantadas pela clonagem reprodutiva – conceito ambíguo, dado que toda a clonagem é sempre reprodutiva, “duplicante”.

Qual o problema da clonagem aplicada a seres humanos?

Como refere André Comte- Sponville – Apresentações da Filosofia – "a humanidade não é uma criação, mas uma transmissão, não é uma invenção mas uma fidelidade, uma filiação. A humanidade é recebida antes de ser criada ou criadora, é natural, antes de ser cultural. É-se homem por se ser filho do homem”.

Ora, ser filho de um homem e de uma mulher  torna cada um de nós – com a exceção dos casos da clonagem e dos gémeos verdadeiros – uma experiência genética única, irrepetível.

Torna-nos in-divíduos.

Pois bem, "um ser humano gerado através da clonagem reprodutiva teria problemas em experienciar-se como indivíduo, como um ente não dividido. Em vez de ser singular, seria uma cópia”, como alude Richard David Precht – Quem Sou Eu? E, Se Sou, Quantos?

Além do que, como afirma Kant, “o homem é um fim em si mesmo”, não um meio.

Ora a clonagem, sustentam os seus críticos, transforma o homem num meio e parece atentar contra a sua dignidade.

Porém, esta questão filosófica, como muitas outras, mantém-se em aberto.

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 00:09

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