Este pretende ser um "espaço" público de partilha de ideias, um espaço de comunicação...

28
Out 13

 

Lamego, vista parcial da cidade

 

"Cidade, política, cidadão e civilização" constituem conceitos que se interligam.

Ser cidadão é ser membro de uma comunidade política, que se define pelo livre exercício dos seus direitos cívicos e políticos e pela sua participação nas decisões do Estado.

É ter direitos e deveres.

A noção de cidadão só faz sentido numa sociedade regida por leis, pois é a lei que determina os direitos e os deveres dos cidadãos – embora num “estado de natureza”, anterior à sociedade política que institui o “direito positivo”, se possa falar em “direitos naturais”.

Como a natureza recusou ao homem a capacidade de se bastar a si mesmo, a sua realização plena só é viável na cidade, enquanto cidadão.

A cidadania está ligada à nacionalidade mas uma cidadania plenamente realizada deveria basear-se numa política cosmopolita. Mais do que cidadãos de uma nação ou de uma cidade, somos “cidadãos do mundo”.

Apesar das fronteiras físicas e culturais que delimitam e circunscrevem as nações e os povos, parece haver valores, direitos e deveres universais que ultrapassam as simples fronteiras das cidades e das nações.

A civilização, neste sentido, pode ser entendida como um estado de progresso dos costumes, dos conhecimentos e dos valores, tese contestada por Rousseau - para quem a civilização, no sentido de afastamento do estado natural, não deve ser entendida como progresso.

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 00:01

20
Out 13

Demócrito, "o filósofo que ri"

 

Por que motivo se ri, de um modo interminável, Demócrito?

A situação torna-se preocupante.

Estará louco?

O seu riso ameaça a coesão da cidade e perturba a paz coletiva.

Torna-se urgente fazer alguma coisa.

Os habitantes de Abdera chamam ao seu leito o grande médico, Hipócrates.

O filósofo não cessa de rir. Ri de tudo: dos lutos, das desgraças alheias, dos dramas e misérias …

Após longo e detalhado exame, o terapeuta da ilha de Cós conclui o diagnóstico:

“Não é loucura. É o vigor excessivo da alma que se manifesta neste homem”.

Excesso de sabedoria, eis do que padece Demócrito.

Sabedoria que confronta com a ignorância e os preconceitos dos seus concidadãos.

A sua sabedoria fá-lo acreditar na conceção materialista do universo. 

Átomos e vazio, eis a essência de tudo quanto existe.

Desta forma, o filósofo opõe-se à hipótese de qualquer realidade transcendente mensageira de um sentido e de um significado para o homem e para este mundo.

Assim, face ao sem-sentido, ao absurdo de um universo e de uma existência humana, ao verdadeiro sábio materialista não resta outra atitude senão desatar a rir, como quem, na presença de uma comédia ou, mesmo, de um drama, ri desalmadamente.

Eis como o riso se vê convertido numa arma, na única via capaz de expurgar a angústia a que os seres humanos estão irremediavelmente condenados num universo absurdo.

É necessário imaginar Sísifo feliz – dirá Camus, anos mais tarde.   

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 18:03

13
Out 13

 

Séneca, filósofo da corrente estoica, afirmava que o homem é uma coisa sagrada para o homem.

A palavra "sagrado" tem a sua raiz no latim sacrum e diz-se, entre outras coisas, do que é inviolável, intocável.

Como poderemos (re) interpretar, no presente, a afirmação de Séneca?

É por demais sabido que na época do filósofo os parcos conhecimentos inviabilizavam o desenvolvimento de projetos científicos, nomeadamente, no âmbito da clonagem.

Porém, o que ontem era uma quimera tornou-se, hoje, uma possibilidade, em virtude dos “progressos” alcançados no domínio da ciência e da técnica.

De que se trata, afinal, a clonagem?

Antes de se esboçar uma resposta à questão, há que distinguir entre a clonagem reprodutiva e a clonagem terapêutica.

A primeira, significa criar um organismo geneticamente idêntico ao seu modelo. Para o alcançar, retira-se o núcleo a uma célula humana, no qual está contida a totalidade do material hereditário. Depois, procura-se um óvulo e retira-se-lhe o núcleo. Então, o núcleo da célula corporal é introduzido no óvulo desnucleado. O óvulo, assim manipulado, implanta-se no útero de uma mãe hospedeira e, decorridos nove meses, nasceria uma réplica “perfeita” do original – caso a experiência fosse bem-sucedida.

O segundo tipo de clonagem, a terapêutica, parte da ideia segundo a qual, com o auxílio de tecidos embrionários, pode ser possível criar órgãos, com o intuito de serem implantados em pessoas doentes.

Mais consensual do ponto de vista ético, a clonagem terapêutica não tem gerado o mesmo número de questões levantadas pela clonagem reprodutiva – conceito ambíguo, dado que toda a clonagem é sempre reprodutiva, “duplicante”.

Qual o problema da clonagem aplicada a seres humanos?

Como refere André Comte- Sponville – Apresentações da Filosofia – "a humanidade não é uma criação, mas uma transmissão, não é uma invenção mas uma fidelidade, uma filiação. A humanidade é recebida antes de ser criada ou criadora, é natural, antes de ser cultural. É-se homem por se ser filho do homem”.

Ora, ser filho de um homem e de uma mulher  torna cada um de nós – com a exceção dos casos da clonagem e dos gémeos verdadeiros – uma experiência genética única, irrepetível.

Torna-nos in-divíduos.

Pois bem, "um ser humano gerado através da clonagem reprodutiva teria problemas em experienciar-se como indivíduo, como um ente não dividido. Em vez de ser singular, seria uma cópia”, como alude Richard David Precht – Quem Sou Eu? E, Se Sou, Quantos?

Além do que, como afirma Kant, “o homem é um fim em si mesmo”, não um meio.

Ora a clonagem, sustentam os seus críticos, transforma o homem num meio e parece atentar contra a sua dignidade.

Porém, esta questão filosófica, como muitas outras, mantém-se em aberto.

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 00:09

07
Out 13

   

Campo de Concentração de Auschwitz

 

"Chegamos a uns prados cheios de flores. Vimos e compreendemos que estavam diante de nós, mas não sentíamos nada. A primeira centelha de alegria chegou quando vimos um galo com uma cauda de penas multicolores. Mas foi só uma centelha; ainda não pertencíamos àquele mundo. Ao fim da tarde, quando nos encontrámos novamente na caserna, um dos presos disse a outro em segredo: "Diz-me uma coisa, hoje sentiste-te satisfeito?"

E o outro respondeu, sentindo vergonha porque desconhecia que todos sentíamos o mesmo: "Para dizer a verdade, não!"

Tínhamos, literalmente, perdido a capacidade de sentir contentamento e tínhamos de o reaprender lentamente".

 

É desta forma que Viktor Emil Frankl, em O Homem em Busca de um Sentido, descreve os dias que antecederam a libertação dos prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz.

De acordo com o autor, o que se estava a passar com os prisioneiros libertos podia chamar-se "despersonalização". Tudo parecia irreal, improvável, como num sonho. Os prisioneiros não conseguiam acreditar que era verdade.

Defendendo a tese segundo a qual a saúde mental está fundada num certo grau de tensão entre o que já realizámos e aquilo que ainda queremos alcançar, ou o espaço entre o que somos e aquilo que pretendemos vir a ser - e não num estado de equilíbrio, num estado de homeostasia, como normalmente se postula -, Frankl narra, na primeira parte do livro, a sua dramática luta pela sobrevivência enquanto priosioneiro e, na segunda parte, expõe o seu método de psicoterapia: a logoterapia.

Frankl descobriu que os sobreviventes eram aqueles que criavam para si próprios um objetivo, que encontravam um sentido futuro para a existência.  

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 23:24

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