Sono, Salvador Dali
Erich Fromm confronta no seu ensaio Ter ou Ser? duas formas ou modos de existência antagónicos.
De um lado, o modo Ser de existência; do outro, o modo Ter.
Tal não significa que ter seja patológico.
Afinal, como refere o autor, o homem sempre teve alguma coisa e viver sem possuir qualquer coisa é totalmente impossível.
O problema reside numa certa alienação inconsciente.
Assim, por exemplo, quando certo paciente diz ao médico ou ao psicanalista: “Doutor, tenho um problema, tenho insónias, e apesar de ter uma boa casa, tenho muitas preocupações”, o seu discurso denota um predominante grau de alienação.
Com efeito, ninguém tem um problema, como quem tem um relógio ou uma caneta.
Um problema não é um objeto que se possa ter.
O discurso mais apropriado seria referir ao psicanalista que “está preocupado”.
Analogamente, ninguém tem insónias, simplesmente “não consegue dormir”.
Poderá parecer insignificante mas ao referir que “tem um problema”, o paciente elimina a experiência subjetiva e transforma o seu sentimento em qualquer coisa que possui.
Do mesmo modo, uma insónia não é uma sensação física que se possa ter como uma dor de dentes ou uma faringite. A insónia é um estado de espírito.
Este estilo de discurso é recente e exemplifica, segundo Fromm, o modo Ter de existência.