
Salvador Dali, Rapariga de pé à janela
“Alguma vez se interrogou sobre o que poderá pensar um recém-nascido? Eis um ser humano que nunca viu nada, quase nada ouviu e que, imerso no calor do líquido amniótico, sentiu um tocar uniforme. Ele não conhece nem os odores, nem os gostos.”
É nestes termos que Nayla Farouki, O Que é Uma Ideia, introduz o problema da origem do conhecimento ou, para usar a sua terminologia, da origem das ideias.
O problema exposto pela filósofa libanesa constitui uma das questões centrais no âmbito da gnosiologia – a tradição anglo-saxónica emprega a palavra epistemologia, em vez de gnosiologia, para se referir aos problemas quer do conhecimento em geral, quer do conhecimento científico, em particular – a par de outras questões, como a da possibilidade e da natureza ou essência do conhecimento.
Dado que o sujeito que conhece é um ser dual, composto por um corpo e, simultaneamente, por uma “alma”, entendimento ou cognição, daqui decorre o problema de saber qual dos dois polos tem a preponderância, ou mesmo a exclusividade, no ato de conhecer a realidade.
Ou, como expõe J. Hessen em Teoria do Conhecimento:
“O homem é um ser espiritual e sensível. Por conseguinte distinguimos um conhecimento espiritual e um conhecimento sensível. A fonte do primeiro é a razão; a do último a experiência. Pergunta-se de que fonte tira principalmente os seus conteúdos a consciência cognoscente. É a razão ou é a experiência a fonte e a base do conhecimento humano?”
Este é o problema da origem do conhecimento.
São conhecidas as respostas radicais ao referido problema.
De um lado da barricada, examinando a génese psicológica das ideias, os empiristas concluem que é a experiência sensorial a fonte ou origem de todas as nossas ideias; do outro lado da trincheira, os racionalistas advogam que um conhecimento digno desse nome deverá obedecer a dois requisitos:
a) ser necessário, do ponto de vista lógico;
b) ser válido universalmente.
Ora, concluem os racionalistas que só a razão ou o pensamento poderá suprir essas exigências.
É curioso observar que as diversas correntes da Psicologia científica ora se fundamentam em teorias empiristas, ora em teorias racionalistas.
Veja-se o exemplo do behaviorismo e a sua fundamentação empirista.
É célebre a afirmação do psicólogo comportamentalista, J. Watson:
"Dêem-me uma dúzia de crianças sadias, bem constituídas e a espécie de mundo que preciso para as educar, e eu garanto que, tomando qualquer uma delas, ao acaso, prepará-la-ei para se tornar um especialista que eu selecione: um médico, um comerciante, um advogado e, sim, até um pedinte ou ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências, aptidões, assim como da profissão e da raça dos seus antepassados."
O que o fundador da Psicologia científica pretende mostrar é que somos o que fazemos e fazemos aquilo que o meio nos faz fazer.
É sabido que o meio nos fornece estímulos e são, segundo os psicólogos comportamentalistas, esses estímulos provenientes do meio que moldam o sujeito, desempenhando um papel fundamental no seu desenvolvimento. O indivíduo é um elemento passivo.
Fazendo uso da metáfora do computador, o indivíduo é apenas um recipiente passivo das influências ambientais. O computador não realiza nada sem a informação prévia do utilizador.