Este pretende ser um "espaço" público de partilha de ideias, um espaço de comunicação...

29
Ago 13

Magritte

Ao estabelecer a distinção radical entre o pensamento – res cogitans – atributo da mente, e a extensão – res extensa – atributo do corpo, Descartes constitui o ponto de partida clássico da Filosofia da Mente.

Dada a radical oposição estabelecida por Descartes entre os atributos do pensamento e da extensão, existe também uma radical oposição entre as mentes e os corpos, caracterizados respetivamente por tais atributos.

Como tal, surge a necessidade de clarificar o modo como mente e corpo interagem.

Como pode a vontade de erguer um braço, atributo associado à mente e ao pensamento, determinar o movimento corporal do braço?

É conhecida a resposta de Descartes à questão, que faz situar na glândula pineal o centro de interação mente-corpo.

É sabido que uma tal resposta carece de valor científico.

Por isso, a questão permanece em aberto, e a sua resposta remete para uma conceção dualista do ser humano ou para uma conceção monista.

À luz dos conhecimentos científicos atuais, ganha forma a teoria da identidade mente-cérebro. Trata-se de uma teoria materialista (monista) que defende a identidade entre processos mentais e processos cerebrais.

Porém, podemos ainda assim questionar: a Mente é o Cérebro?

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 00:50

20
Ago 13

 

O Homem Na Lua

 

Vivemos na era das Viagens Espaciais.

Na Terra, parece já nada existir para “Descobrir”.

De um “Mundo Fechado”, o Homem viu-se prontamente emerso num “Universo Infinito”.

Hoje, os “Descobrimentos” deslocalizaram-se dos tormentosos Oceanos, habitados por criaturas assombrosas, para o Espaço imenso, para lá das estrelas cintilantes e para lá da nossa racionalidade.

Eternos navegantes à descoberta de um universo insondável, falta, porém, descobrir a essência do próprio Homem.

 

Sendo um ser da natureza, um corpo, um ser vivo, um animal, como afirma Ibánez Langlois, importa, na opinião de Pedro Laín Entralgo, identificar as “notas especificamente humanas que podemos discernir no desempenho da sua conduta, que mostram que o ser humano é qualitativa e essencialmente distinto do animal.”

 

Entre essas notas, Anselmo Borges destaca, em Corpo e Transcendência, as seguintes:

 

a)      O livre arbítrio;

b)      A simbolização;

c)      A linguagem;

d)     A inconclusão / insatisfação;

e)      O ensimesmamento;

f)       A vida no real;

g)      A pergunta;

h)      A criação;

i)        O sorriso e a sepultura.

 

Relativamente à primeira nota distintiva, enquanto o animal é conduzido pelo instinto – espécie de padrão hereditário do comportamento – o Homem não se deixa arrastar pelo impulso. É neste sentido que Max Scheler o define como “o asceta da vida”, o único animal capaz de dizer não aos impulsos instintivos.

Tendo a capacidade de deliberar e de decidir, o Homem é um animal livre e, como tal, moral e responsável.

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 23:21

18
Ago 13

Uma das palavras mais pronunciadas nos últimos tempos é, sem dúvida, a palavra "crise".

 

Alguns analistas pretendem ver na suposta baixa produtividade o fundamento da atual crise económica e financeira e apontam um caminho para a saída

desta situação crítica: reduzir o número de feriados e de férias e, inversamente, aumentar as horas efetivas de trabalho. Só assim, sustentam, podemos

produzir mais e adotar um estilo de vida adequado aos padrões de consumo da nossa “sociedade de objetos”.

 

O raciocínio parece ser o seguinte: para podermos inverter o atual estado de coisas, temos de produzir mais e para isso temos de dedicar mais horas do

nosso tempo ao trabalho, como foi desde já referido em Consumo, Logo Existo.

 

Talvez este seja o momento de parar para refletir sobre o rumo coletivo que pretendemos imprimir e sobre o tipo de sociedade que queremos edificar.

Os poetas e os filósofos já não se encontram sozinhos.

 

Recentemente, o economista Tim Jackson defendeu que a saída para a crise não é o crescimento, que só criou divida.

 

É preciso fundar uma economia em torno do velho conceito de prosperidade, que é algo mais que crescimento económico ou riqueza material. A tese do economista Tim Jackson é expressa num livro que resume vários anos de estudos e reflexões na Universidade de Surrey (Reino Unido) e na Comissão Britânica de Desenvolvimento Sustentável. A Renascença entrevistou-o recentemente em Lisboa, onde esteve a convite do Teatro Maria Matos, lançando a edição portuguesa de “Prosperidade Sem Crescimento” (Tinta da China).

 

Como se consegue a prosperidade sem crescimento?
Prosperidade é algo mais que crescimento económico ou riqueza material. Liga-se a conceitos como comunidade, saúde, família. É uma noção de prosperidade quase esquecida pelos economistas. É a prosperidade dos poetas, dos profetas ou dos filósofos. Mas também das pessoas comuns.

 

Como medir essa prosperidade para além do PIB?
Não há uma única medida. Há quem sugira índices de Felicidade, mas pessoalmente penso que não faz sentido. Não é uma base sólida para avaliar como vai um país. Queremos saber quão forte é uma sociedade. Por exemplo, em que medida o voluntariado é forte ou se há muita participação na educação. Queremos saber da saúde física e psicológica da comunidade. Isto são coisas que podemos medir, algumas relacionadas com o crescimento económico.

 

 Poderá consultar o resto do artigo AQUI

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 16:18

16
Ago 13

Salvador Dali, Rapariga de pé à janela

“Alguma vez se interrogou sobre o que poderá pensar um recém-nascido? Eis um ser humano que nunca viu nada, quase nada ouviu e que, imerso no calor do líquido amniótico, sentiu um tocar uniforme. Ele não conhece nem os odores, nem os gostos.”

É nestes termos que Nayla Farouki, O Que é Uma Ideia, introduz o problema da origem do conhecimento ou, para usar a sua terminologia, da origem das ideias.

O problema exposto pela filósofa libanesa constitui uma das questões centrais no âmbito da gnosiologia – a tradição anglo-saxónica emprega a palavra epistemologia, em vez de gnosiologia, para se referir aos problemas quer do conhecimento em geral, quer do conhecimento científico, em particular – a par de outras questões, como a da possibilidade e da natureza ou essência do conhecimento.

Dado que o sujeito que conhece é um ser dual, composto por um corpo e, simultaneamente, por uma “alma”, entendimento ou cognição, daqui decorre o problema de saber qual dos dois polos tem a preponderância, ou mesmo a exclusividade, no ato de conhecer a realidade.

Ou, como expõe J. Hessen em Teoria do Conhecimento:

“O homem é um ser espiritual e sensível. Por conseguinte distinguimos um conhecimento espiritual e um conhecimento sensível. A fonte do primeiro é a razão; a do último a experiência. Pergunta-se de que fonte tira principalmente os seus conteúdos a consciência cognoscente. É a razão ou é a experiência a fonte e a base do conhecimento humano?”

Este é o problema da origem do conhecimento.

São conhecidas as respostas radicais ao referido problema.

De um lado da barricada, examinando a génese psicológica das ideias, os empiristas concluem que é a experiência sensorial a fonte ou origem de todas as nossas ideias; do outro lado da trincheira, os racionalistas advogam que um conhecimento digno desse nome deverá obedecer a dois requisitos:

a) ser necessário, do ponto de vista lógico;

b) ser válido universalmente.

Ora, concluem os racionalistas que só a razão ou o pensamento poderá suprir essas exigências.

É curioso observar que as diversas correntes da Psicologia científica ora se fundamentam em teorias empiristas, ora em teorias racionalistas.

Veja-se o exemplo do behaviorismo e a sua fundamentação empirista.

É célebre a afirmação do psicólogo comportamentalista, J. Watson:

"Dêem-me uma dúzia de crianças sadias, bem constituídas e a espécie de mundo que preciso para as educar, e eu garanto que, tomando qualquer uma delas, ao acaso, prepará-la-ei para se tornar um especialista que eu selecione: um médico, um comerciante, um advogado e, sim, até um pedinte ou ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências, aptidões, assim como da profissão e da raça dos seus antepassados."

O que o fundador da Psicologia científica pretende mostrar é que somos o que fazemos e fazemos aquilo que o meio nos faz fazer.

É sabido que o meio nos fornece estímulos e são, segundo os psicólogos comportamentalistas, esses estímulos provenientes do meio que moldam o sujeito, desempenhando um papel fundamental no seu desenvolvimento. O indivíduo é um elemento passivo.

Fazendo uso da metáfora do computador, o indivíduo é apenas um recipiente passivo das influências ambientais. O computador não realiza nada sem a informação prévia do utilizador.

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 01:18

01
Ago 13

Da socialidade – e não sociabilidade, dado que este último conceito conota, desde logo, uma tomada de posição quanto ao carácter positivo e cooperativo da vida em sociedade, ignorando a outra face da realidade, o conflito e a oposição, como refere Joaquim Neves Vicente – do Homem, esse bípede implume, no dizer de Platão, ninguém duvida.

Aristóteles, o seu discípulo, destacava o carácter eminentemente social do ser humano, sustentando que “aquele que não pode viver em sociedade e que no meio da sua independência não tem necessidades não pode ser nunca um membro do Estado: é um animal ou um Deus”.

Os casos de “crianças selvagens” reforçam a ideia segundo a qual “não nascemos humanos, tornamo-nos humanos”, e comprovam que a componente biológica não é suficiente para nos tornarmos verdadeiramente humanos.

 

Contudo, o que nos move na interação com o(s) “outro(s)”?

O que julgamos ser melhor para nós ou o que cremos ser melhor para os outros?

 

Há quem argumente que não somos capazes de ser altruístas e que todas as ações humanas são motivadas pelo egoísmo. Ainda que um comportamento pareça consagrado aos outros, está, na verdade, ligado a um tipo qualquer de benefício para quem age.

É neste contexto que se deverão reinterpretar os motivos de pessoas que, como Madre Teresa de Calcutá, aparentemente dedicaram toda uma vida aos outros. Na verdade, a própria Madre Teresa acreditava que seria bem recompensada no Céu.

 

Orientando-se na linha de pensamento do egoísmo psicológico, Adam Smith – representante do liberalismo económico e do capitalismo, doutrinas políticas que presidem, na atualidade, aos destinos de maioria das economias mundiais – considerava que “não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos seus próprios interesses” (A Riqueza das Nações).

A ordem social e moral é, segundo A. Smith, uma consequência não intencional da busca do interesse próprio; num mercado livre, um sistema de liberdade perfeita, segundo ele, os indivíduos ao atuarem no seu próprio interesse serão conduzidos por uma “mão invisível”, a beneficiar a sociedade como um todo.

 

Contudo, será o liberalismo uma doutrina justa para configurar a experiência convivencial?

E o egoísmo psicológico, será adequado à interpretação dos comportamentos humanos?

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 12:00

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