No artigo sobre filosofia analítica, extraído do Dicionário das Grandes Filosofias, Louis Vax, considera que “a tradição vê no conhecimento o ato psicológico de um sujeito que apreende um objeto pela razão ou pelos sentidos.
O filósofo que fundamenta o conhecimento nos dados dos sentidos é um empirista; o filósofo que conclui o conhecimento como a apreensão das ideias que se formam no espírito, é um intelectualista. O que tende a absorver o objeto na consciência que dele se tem é um idealista e o filósofo que defende que o objeto existe fora do conhecimento, é um realista.
Por opostas que sejam estas teorias, os seus adeptos não deixam de concordar num princípio comum: só há saber para um sujeito cognoscente. O saber é conhecimento de alguma coisa por alguém. O filósofo do conhecimento é um metafísico que se apoia numa psicologia.”
Esta forma de fundamentar o conhecimento na psicologia foi, entretanto, alvo de objeções – em particular pela denominada filosofia analítica. Argumenta-se, agora, que as leis da lógica são independentes das leis psicológicas e que nenhum sentimento de evidência ou de incerteza, nenhuma série de experiências poderá refutar uma lei como esta:
Se todos os A são B
Se todos os B são C
Então, todos os A são C.
Conhecida ou não, uma lei lógica é verdadeira por si própria. O seu assentimento não depende do sujeito cognoscente.
Esta viragem que ocorreu na forma de conceber e fundamentar o “conhecimento”, não na psicologia mas na lógica, parece estar na base e na origem do “desprezo” da filosofia analítica em conceber o conhecimento como uma relação entre um sujeito cognoscente e um objeto conhecido.
Ao mundo do objeto e do sujeito, os analíticos acrescentam um terceiro mundo, como o fez Karl Popper: o do “conhecimento sem sujeito cognoscente”. Este passa a constituir o objeto principal da filosofia analítica.
Perante esta viragem radical na forma de conceber o conhecimento, cumpre, a quem ensina filosofia, inquirir:
1. Poderemos falar em conhecimento prescindindo de um sujeito cognoscente?
2. O conhecimento depende, exclusivamente, das leis lógicas?
3. Será o conhecimento filosófico uma ciência exata?
4. Haverá Ciências Exatas?