A definição de ação humana – e toda a rede de conceitos a ela associada (Paul Ricoeur, O Discurso da Ação) – pressupõe, à partida, a existência de uma vontade livre (livre arbítrio).
Sem livre-arbítrio, como poderíamos falar em “interferência consciente e voluntária de um agente no normal decurso das coisas, que sem a sua interferência seguiriam um caminho distinto”?
Sem livre-arbítrio, como poderíamos deliberar e decidir?
Sem livre-arbítrio, as ações não passariam de meros acontecimentos.
Porém, os recentes progressos ao nível do conhecimento científico, nomeadamente no domínio das neurociências, constituem fortes argumentos contra o livre-arbítrio.
São disso exemplo, os argumentos aduzidos pelas experiências conduzidas por Benjamin Libet, H. Kornhuber ou por José Delgado, no âmbito das neurociências.
Tais experiências revelam que enquanto a decisão consciente de mover um dedo, por exemplo, ocorre uma fração de segundo antes do movimento do dedo, a atividade elétrica do cérebro, medida por um Eletroencefalograma, mostra que a decisão de mover o dedo ocorre depois da atividade cerebral que causa esse mesmo movimento do dedo.
Tal experiência parece demonstrar que a afirmação de uma vontade livre é uma ilusão.
Inserindo-se nesta linha de pensamento, José António Alves, em Limites da Consciência – o Meio Segundo de Atraso e a Ilusão da Liberdade – desenvolve a ideia de que a liberdade humana é ilusória.
São suas, as seguintes palavras:
“A tradição filosófica concebe que nas ações livres são os pensamentos ou desejos de ação a causa da ação. Quando um ser humano afirma que vai levantar o braço direito, a causa dessa ação é a vontade de querer levantar o braço direito inerente à afirmação proferida. Libet sublinha que se a afirmação do ser humano é a causa da ação, então o surgir da afirmação na consciência deverá ser anterior ou simultâneo a qualquer atividade física do cérebro.
(Porém), os resultados obtidos por Libet contradisseram a ideia de que a vontade precede ou, pelo menos, está no início da atividade cerebral associada à ação livre. No confronto dos dois tipos de valores temporais, os investigadores descobriram que a atividade cerebral física precede sempre o momento em que o sujeito se torna consciente de querer agir. “ (Op. Cit., Pág. 80)