Este pretende ser um "espaço" público de partilha de ideias, um espaço de comunicação...

26
Jul 13

Vocabulário Crítico de Argumentação

Rui Alexandre GRÁCIO acaba de publicar uma obra que, pelo conteúdo abordado e pela riqueza e diversidade das referências bibliograficas, poderá ser de interesse para todos os que se dedicam às áreas da filosofia e da comunicação em geral.

Em particular, a obra poderá revestir-se de especial utilidade para os estudantes de filosofia que frequentam o 11.º ano dos Cursos Científico-Humanísticos do Ensino Secundário.

 

Como é referido na contracapa da obra:

 

"o autor propõe ao leitor explorar alguns termos que considera centrais na teorização da argumentação e na compreensão das práticas argumentativas".

 

A título de exemplo, eis alguns dos conceitos abordados por Rui Grácio:

 

- Abdução

- Analogia

- Argumentação

- Argumento ad hominem

- Auditório

- Cogência

- Dedução

- Demonstração Vs Argumentação

- Entimema

- Ethos

- Falácia

- Indução

- Sofistas

- ....

 

 Ficha Técnica

 

Título:

Vocabulário Crítico de Argumentação

 

Autor:

 GRÁCIO, Rui Alexandre

 

1.ª edição: Maio de 2013

 

Grácio Editor

 

Coleção Contradiscursos

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 01:34

21
Jul 13

Inquirir pelo lugar do homem no universo não se nos afigura questão insignificante ou secundária.

É, justamente, uma das questões centrais da antropologia filosófica.

O homem – afirma Ibánez Langlois, Introdução à Antropologia Filosófica – “é um ser da natureza, um corpo, um ser vivo, um animal; não obstante a sua índole inteiramente peculiar ou diferencial, ocupa um lugar bem preciso na hierarquia dos entes, ou seja, nos graus do ser e da vida. Por isso – prossegue – devemos propor uma ordenação inteligível desses graus – matéria, vida vegetal, animal e humana – que dê conta da continuidade ontológica e simultaneamente da descontinuidade profunda que o homem possui em relação à natureza inferior”.

As diversas manifestações culturais exprimem, por norma, uma conceção antropocentrica e antropomórfica.

Xenófanes observou que, enquanto os etíopes representavam os deuses de pele escura, na Trácia retratavam os deuses com cabelos ruivos e olhos azuis.

Tomás de Aquino defendeu o ponto de vista de que as criaturas racionais – os homens – possuem um valor intrínseco, enquanto os animais "mudos”, sendo irracionais, apresentam apenas um valor instrumental.

Herdeiros da tradição que nos coloca no centro da criação divina, “o direito de matar um veado ou uma vaca parece-nos natural, precisamente porque estamos no alto da hierarquia” – afirma Milan Kundera.

No entanto, no âmago desta tradição antropocentrica emergem algumas questões:

Será o homem – enquanto ser dotado de racionalidade – o único ser com estatuto moral?

Qual a verdadeira fronteira entre animais humanos e não humanos?

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 00:38

18
Jul 13

É comum dizer-se de algumas vidas que “davam um filme”.

Parece ser o caso da vida de João Manuel Serra, o Senhor do Adeus.

Ficou conhecido por cumprimentar toda a gente que passava na zona do Saldanha.

Amante do cinema, o Senhor do Adeus “partiu” no ano de 2010, aos 79 anos de idade, numa viagem sem retorno.

Na sua última "viagem", não foram poucos os que fizeram questão de marcar presença para lhe acenar e bater palmas.

Louco, para uns, o Senhor do Adeus padecia, tão só, de Solidão.

Para a afugentar, "essa senhora malvada, que me persegue por entre as paredes vazias da casa, para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente", disse.

"Venho para a Praça Duque de Saldanha desde que fiquei nas mãos de não ter ninguém. A vida dá estranhas voltas, o meu destino é acenar a quem me cumprimenta. Estou sujeito a que me chamem maluco, mas não me importo. Da minha solidão sei eu".

Afinal, o Senhor do Adeus não era louco.

Sofria, loucamente, de solidão.

A solidão constitui condição existencial ordinária comum a todos – como refere André Comte-Sponville – não por não termos relações com os outros, mas porque essas relações não podem abolir, de todo, a nossa solidão essencial, que decorre do facto de sermos os únicos a sermos o que somos e a viver o que vivemos.

Nisso, o amor e a morte aproximam-se: ninguém pode amar ou morrer por nós.

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 16:04

17
Jul 13

As nossas sociedades caracterizam-se por uma pluralidade de desigualdades.

O sociólogo sueco Goran Therborn propõe uma perspetiva teórica multidimensional das desigualdades sociais contemporâneas.

Identifica três dimensões de desigualdades sociais:

 

a) desigualdades vitais;

b) desigualdades existenciais;

c) desigualdades de recursos.

 

A desigualdade social constitui um facto incontestável. Tal facto não deixa ninguém indiferente.

O trânsito do plano do Ser ao plano do Dever-Ser, do plano da realidade ao plano da idealidade, constitui a transição do vivido ao pensado.

Como deverá ser uma sociedade perfeita - ou menos imperfeita?

São vários os autores que abordam essa questão, propondo reflexões diversas. 

 

Segundo Mahatma Gandhi, "tudo o que comemos sem necessidade é roubado ao estômado dos pobres".

Fernando Savater, filósofo espanhol, corrobora das palavras de Gandhi.

Segundo este pensador, surge uma sensação de repugnância diante da imensa quantidade de milhões que morrem de fome, enquanto um grupo de privilegiados morre de indigestão.

 

Porém, será legítimo defender a ideia de que o excesso de uns de certa maneira é causa de privação de outros?

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 00:33

12
Jul 13

        

            A estudante paquistanesa Malala Yousufzai foi homenageada nas Nações Unidas como símbolo da educação para todas crianças paquistanesas, nove meses depois de ter sido baleada na cabeça por um talibã, ao sair de um autocarro escolar. No seu país, por incrível que pareça, é vedado às raparigas um dos mais elementares direitos: o direito à educação. Malala quer combater os talibãs com livros e canetas.

           

            Em sua homenagem e de todas as raparigas vítimas de discriminação, foi redigida esta singela reflexão.

 

            A palavra phusis tem o mesmo radical do verbo phuo, que significa nascer, produzir, fazer, e encontra a sua origem mais remota no indo-europeu bhu (ser – raiz de to be e de ich bin).

            O mesmo se poderia dizer de natura, proveniente de (g)natura (próximo de (g)natus) que radica no indo-europeu g´n, que não só deu origem a génesis em grego mas também a (g)nascur em latim.

 

            Como refere João Maria André em Renascimento e Modernidade, do Poder da Magia à Magia do Poder (p. 71):

 

            Em ambos os termos encontramos na raiz de natureza um profundo sentido dinâmico, condensado no princípio gerador de todos os seres que lhes comunica a sua essência e a sua nova capacidade de atividade.

  

            A aproximação ao sentido originário da palavra “natureza” remete-nos, como se pode observar, para a ideia de que a natureza é feminina. Assim como uma mãe, a natureza é geradora das diversas formas de vida.

            Ora, se associarmos esta premissa a uma outra, à ideia de que, assim como a mulher, também a natureza tem vindo a ser explorada e submetida ao poder masculino, obtemos a fórmula do eco feminismo.

 

            O eco feminismo é um termo originalmente criado pela feminista francesa Françoise d´Eaubonne em 1974 e simboliza a síntese do ambientalismo e do feminismo.

            Segundo o movimento eco feminista, as duas premissas referidas justificam a ligação do combate ecológico ao da libertação da mulher e à identificação desta com a natureza.

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 21:59

09
Jul 13

Alegoria do Tacto, Jan Bruegel

 

"Quando o tocar se torna carícia, ele faz nascer o outro para mim e arranca-o, assim, ao mundo dos objetos".

 

In: Jean-Michel Besnier, As Teorias do Conhecimento, Instituto Piaget, pág.32

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 19:28

08
Jul 13

 No artigo sobre filosofia analítica, extraído do Dicionário das Grandes Filosofias, Louis Vax, considera que “a tradição vê no conhecimento o ato psicológico de um sujeito que apreende um objeto pela razão ou pelos sentidos.

   O filósofo que fundamenta o conhecimento nos dados dos sentidos é um empirista; o filósofo que conclui o conhecimento como a apreensão das ideias que se formam no espírito, é um intelectualista. O que tende a absorver o objeto na consciência que dele se tem é um idealista e o filósofo que defende que o objeto existe fora do conhecimento, é um realista.

   Por opostas que sejam estas teorias, os seus adeptos não deixam de concordar num princípio comum: só há saber para um sujeito cognoscente. O saber é conhecimento de alguma coisa por alguém. O filósofo do conhecimento é um metafísico que se apoia numa psicologia.”

  

   Esta forma de fundamentar o conhecimento na psicologia foi, entretanto, alvo de objeções – em particular pela denominada filosofia analítica. Argumenta-se, agora, que as leis da lógica são independentes das leis psicológicas e que nenhum sentimento de evidência ou de incerteza, nenhuma série de experiências poderá refutar uma lei como esta:

 

Se todos os A são B

Se todos os B são C

Então, todos os A são C.

 

  Conhecida ou não, uma lei lógica é verdadeira por si própria. O seu assentimento não depende do sujeito cognoscente.

  Esta viragem que ocorreu na forma de conceber e fundamentar o “conhecimento”, não na psicologia mas na lógica, parece estar na base e na origem do “desprezo” da filosofia analítica em conceber o conhecimento como uma relação entre um sujeito cognoscente e um objeto conhecido.

  Ao mundo do objeto e do sujeito, os analíticos acrescentam um terceiro mundo, como o fez Karl Popper: o do “conhecimento sem sujeito cognoscente”. Este passa a constituir o objeto principal da filosofia analítica.

 

  Perante esta viragem radical na forma de conceber o conhecimento, cumpre, a quem ensina filosofia, inquirir:

 

       1. Poderemos falar em conhecimento prescindindo de um sujeito cognoscente?

       2. O conhecimento depende, exclusivamente, das leis lógicas? 

       3. Será o conhecimento filosófico uma ciência exata?

       4. Haverá Ciências Exatas?

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 15:24

07
Jul 13

A definição de ação humana – e toda a rede de conceitos a ela associada (Paul Ricoeur, O Discurso da Ação) – pressupõe, à partida, a existência de uma vontade livre (livre arbítrio).

Sem livre-arbítrio, como poderíamos falar em “interferência consciente e voluntária de um agente no normal decurso das coisas, que sem a sua interferência seguiriam um caminho distinto”?

Sem livre-arbítrio, como poderíamos deliberar e decidir?

Sem livre-arbítrio, as ações não passariam de meros acontecimentos.

Porém, os recentes progressos ao nível do conhecimento científico, nomeadamente no domínio das neurociências, constituem fortes argumentos contra o livre-arbítrio.

São disso exemplo, os argumentos aduzidos pelas experiências conduzidas por Benjamin Libet, H. Kornhuber ou por José Delgado, no âmbito das neurociências.

Tais experiências revelam que enquanto a decisão consciente de mover um dedo, por exemplo, ocorre uma fração de segundo antes do movimento do dedo, a atividade elétrica do cérebro, medida por um Eletroencefalograma, mostra que a decisão de mover o dedo ocorre depois da atividade cerebral que causa esse mesmo movimento do dedo.

Tal experiência parece demonstrar que a afirmação de uma vontade livre é uma ilusão.

Inserindo-se nesta linha de pensamento, José António Alves, em Limites da Consciência – o Meio Segundo de Atraso e a Ilusão da Liberdade – desenvolve a ideia de que a liberdade humana é ilusória.

 

São suas, as seguintes palavras:

 

“A tradição filosófica concebe que nas ações livres são os pensamentos ou desejos de ação a causa da ação. Quando um ser humano afirma que vai levantar o braço direito, a causa dessa ação é a vontade de querer levantar o braço direito inerente à afirmação proferida. Libet sublinha que se a afirmação do ser humano é a causa da ação, então o surgir da afirmação na consciência deverá ser anterior ou simultâneo a qualquer atividade física do cérebro.

(Porém), os resultados obtidos por Libet contradisseram a ideia de que a vontade precede ou, pelo menos, está no início da atividade cerebral associada à ação livre. No confronto dos dois tipos de valores temporais, os investigadores descobriram que a atividade cerebral física precede sempre o momento em que o sujeito se torna consciente de querer agir. “ (Op. Cit., Pág. 80) 

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 16:30

06
Jul 13

        

   Há muito que se sabe que o ciberespaço é um dos principais campos de batalha do século XXI. No entanto, as revelações chocantes do início do mês de junho sobre as atividades de vigilância e recolha de dados da NSA [Agência de Segurança Nacional] ilustram até que ponto os serviços de informação dos Estados Unidos procuram "preponderância em toda a gama" no ciberespaço.

            Embora tenham surgido inúmeros artigos, nos últimos dias, sobre os diferentes aspetos da vigilância da NSA à escala mundial, nenhum parece ter analisado o facto de os serviços de informação dos Estados Unidos terem, efetivamente, acesso a todos os dados transmitidos, e não apenas aos dos servidores da Verizon ou da Google.


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/espionagem-global-da-internet=f818558#ixzz2YGyCCSqD

 

 

A Atualidade do Pensamento de Foucault

 

            Em Vigiar e Punir (Surveiller et Punir: Naissance de la prison),  Michel Foucault apresenta duas imagens do corpo do condenado:

  1. o corpo do condenado publicamente torturado e mutilado;
  2. o corpo disciplinado do prisioneiro na sua cela, secretamente sob a ameaça de uma constante vigilância.

            Ao examinar a construção da prisão como meio central da punição criminal, Foucault defende a ideia de que a prisão se tornou parte de um mais amplo “sistema carcerário” – que tudo hegemoniza – na sociedade moderna.

            A prisão pertence a uma rede mais vasta, compreendendo escolas, instituições militares, hospitais e fábricas, que materializa uma sociedade pan-óptica para os seus membros. O sistema cria “carreiras disciplinares” para quem aceita permanecer “na linha”. O funcionamento de um tal sistema é propiciado pelas autoridades científica da medicina, psicologia e criminologia.

            Segundo Foucault, não é possível separar o nascimento da prisão, enquanto principal forma de punição legal no século XIX, da história de um vasto número de instituições – exército, escola, fábrica – que enfatizam a disciplina do corpo através de técnicas reais de vigilância. É a emergência de uma sociedade disciplinar.

            O panóptico de Jeremy Bentham constitui a imagem que melhor captura a estrutura da nossa sociedade e do poder. O panóptico permite a vigilância invisível de um vasto número de pessoas por um pequeno número.

            Na perspetiva de Foucault, a disciplina cria “corpos dóceis”, ideais para as exigências modernas em questões de economia, política, guerra – corpos funcionais em fábrica, nos ordenamentos regimentais, nas classes escolásticas. Mas, para construir corpos dóceis, as instituições que promovem a disciplina devem conseguir:

  1. Observar e registar os corpos que controlam;
  2. Garantir a interiorização da individualidade disciplinar nos corpos que são controlados.

            Ou seja: a disciplina deve impor-se sem uma força excessiva, através de uma atenta observação, e graças a tais observações os corpos são forjados na forma correta. Disto deriva a necessidade de uma peculiar forma de instituição que – segundo – Foucault é exemplificado pelo Pan-óptico de Jeremy Bentham.

            O Pan-óptico era a suma encarnação de uma moderna instituição disciplinar. Consentia uma constante observação caracterizada pela “vista desigual”.

            Deste modo, o conhecimento dos indivíduos articula-se com o poder instituído.

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 15:21

05
Jul 13

  

Autores há – Simon Blackburn, Pense. Uma Introdução à Filosofia – que caracterizam a pergunta filosófica e as respetivas respostas como não empíricas, ou seja, sem recurso à experiência.

   Contudo, é importante referir que a atividade filosófica, sendo de cariz essencialmente racional, a priori, tal não significa que ignora a realidade.

   O filósofo não é um autista. Enquanto “cidadão do mundo”, o filósofo tem os seus pés assentes num espaço e num tempo concretos.

   Da condição de ser-no-mundo, advém-lhe a admiração e o espanto.

   Por seu turno, a admiração e o espanto induzem à reflexão e ao questionamento do real.

   Por isso, a dicotomia empírico/racional e a posteriori/a priori, reveste-se de um interesse meramente didático.

   Para nos servirmos de Kant:

“Pensamentos sem conteúdo são vazios; intuições sem conceitos são cegas”.

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 12:31

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