Alguns analistas, conceituados técnicos, pretendem ver na suposta baixa produtividade o fundamento da atual crise económica e financeira e apontam um caminho para a saída desta situação crítica: reduzir o número de feriados e de férias e, inversamente, aumentar as horas efetivas de trabalho. Só assim, sustentam, podemos produzir mais e adotar um estilo de vida adequado aos padrões de consumo da nossa “sociedade de objetos”.
O raciocínio parece ser o seguinte: para podermos inverter o atual estado de coisas, temos de produzir mais e para isso temos de dedicar mais horas do nosso tempo ao trabalho.
Mas, para que havemos de produzir mais?
A resposta parece desembocar numa falácia do raciocínio circular: para poder auferir rendimentos superiores. Afinal, tempo é dinheiro. E o Dinheiro é um “valor meio”, um valor instrumental que nos proporciona a aquisição de um vasto leque de “objetos” produzidos, alimentando, destarte, a “vontade de vontade”, de “poder” ilimitado e sem sentido que parece caracterizar a nossa sociedade contemporânea de produção e de consumo. Mais dinheiro propicia mais consumo, e este, por sua vez, dinamiza a Economia.
Se auferimos mais dinheiro, consumimos mais; se consumimos mais, temos de produzir mais para ganhar mais dinheiro para poder consumir mais, num movimento contínuo e perpétuo que ninguém ainda conseguiu prever aonde conduzirá o homem e a sua “casa comum”, que habita, a Terra.
Perante a prescrição dos analistas e técnicos conceituados, uma pergunta emerge. A solução da crise passa pelo incremento ou, inversamente, pelo decréscimo da produção de “objetos” a uma escala sustentável para o planeta e para a humanidade?
São os “desejos” humanos que criam os “objetos” ou, contrariamente, são os “objetos” expostos numa qualquer vitrine de uma grande superfície comercial – as catedrais da nossa civilização – que despoletam nos humanos os “desejos”, fazendo apelo a um consumo ilimitado e irracional?
Ou, será isto um falso dilema?