É comum dizer-se que a Grécia Antiga constitui o “berço” da nossa civilização. Não faltam exemplos para ilustrar essa ideia.
A conceção naturalista do Homem, específica da moderna visão científica, estende as suas raízes ao longínquo século IV a.C., às ideias difundidas pelo epicurismo.
A corrente epicurista deriva o seu nome de Epicuro, nascido em Samos, filho de um mestre de gramática e de uma mágica adivinhadora.
O epicurismo, por sua vez, é conhecedor do atomismo de Demócrito e de Leucipo, inserindo-se, o seu pensamento, numa perspetiva materialista da realidade.
Com efeito, para Epicuro, a “alma” é de natureza material, pelo que morre com o corpo.
Por isso, não há que temer a morte, a qual passa a ser entendida não como um desaparecimento físico mas como uma transformação.
Neste sentido, Epicuro e os atomistas parecem ter antecipado, em séculos, a lei de Lavoisier, segundo a qual “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
É, pois, com Demócrito e, sobretudo, com Epicuro que o pensamento naturalista verdadeiramente se constitui.
Segundo a cosmologia formulada por Demócrito e Epicuro, todos os objetos são compostos por corpúsculos extremamente pequenos, partículas elementares, indivisíveis e eternas: os átomos.
As suas múltiplas e variadas combinações bastam para produzir toda a diversidade de seres.
O ser humano não escapa a esta visão materialista da realidade, passando a ser entendido como um ser dotado de uma alma e de um corpo destinados à decomposição.
Este processo de decomposição significa, tão somente, que os átomos de um corpo ganham uma nova configuração, podendo dar lugar, com o advento da morte, a outros corpos: uma flor ou outra coisa qualquer.
A configuração ontológica subjacente à cosmologia dos atomistas e de Epicuro ganha, assim, como que uma dimensão “romântica”.