É comum considerar-se que a interacção mãe-bebé reforça o sentido de segurança e a autonomia. Um meio precoce adverso conduz a dificuldades acrescidas em superar obstáculos. No entanto, há a considerar os aspectos relacionados com o auto-controlo das emoções.
O conceito resiliência, foi herdado da Física, nomeadamente da Mecânica, para se referir à resistência dos materiais ao choque e à deformação.
Do ponto de vista do ser humano, a resiliência designa a capacidade de auto-restabelecimento e de resistência às doenças mentais, face a situações adversas ou indutoras de grande ansiedade.
Em Filosofia Para a Vida, (Bertrand Editora) o filósofo Jules Evans revela a importância e a actualidade dos pensadores clássicos, como o escravo Epícteto, no que diz respeito ao controlo das emoções.
Na referida obra, o autor conta-nos a seguinte história verídica:
"Quando se deu a primeira Guerra do Golfo, Rhonda Cornum, que ocupava o posto de médica aeronáutica na 101.ª Divisão Aerotransportada dos EUA, foi enviada numa missão que visava o salvamento de um piloto de um avião de caça que tinha sido abatido. O helicóptero que a transportava também foi abatido, despenhando-se no Deserto da Arábia a cerca de 260 Km / h, o que levou à morte instantânea de cinco dos oito membros da tripulação. Cornum sobreviveu com os dois braços partidos, uma ruptura de ligamentos no joelho e uma bala alojada no ombro. Depois, os soldados iraquianos que cercaram o helicóptero arrastaram-na pelos braços (partidos) e atiraram-na para a parte de trás de um camião, juntamente com o sargento Troy Dunlap, outro dos membros da tripulação. Enquanto o camião avançava, aos solavancos, pela estrada que atravessava o Deserto, um dos soldados iraquianos abriu o fecho do fato de voo de Cornum e violou-a. A médica não o pôde impedir e esforçou-se por não gritar, mas não conseguiu evitá-lo a cada vez que o iraquinano lhe batia nos braços. O homem acabou por a deixar em paz. O sargento Dunlap estava acorrentado ao pé dela, pelo que lhe foi impossível socorrê-la. "Doutora", disse o sargento, em voz baixa, "a senhora é uma mulher de fibra!" "Porquê?, achou que eu ia gritar?" Perguntou ela. "Pareceu-me que havia essa possibilidade..." "Deixe lá, nosso sargento..." respondeu Rhonda pouco depois. "Também pensei que o senhor ia gritar." Foram mantidos prisioneiros numa instalação militar iraquiana durante oito dias.
Sobre esta experiência, Cornum disse: "Sermos feitos prisioneiros é a pior coisa que nos pode acontecer. Mas, naquelas celas e naqueles bunquers iraquianos, aprendi que este tipo de experiência não tem de ser necessariamente devastador. Tudo depende de nós."
De que modo esta história se relaciona com os estóicos, nomeadamente com Epícteto?
A estratégia de Epícteto consistiu em lembrar-nos de que havia coisas que podia controlar e outras que não podia.
"De todas as coisas existentes, algumas estão sob o nosso controlo e outras não". Constituem exemplo de coisas que não podemos controlar (pelo menos na totalidade): o nosso corpo, os nossos bens, o nossos amigos, o tempo, o passado, o futuro, o facto de morrermos um dia.
Em contrapartida, há uma coisa que podemos controlar: os nossos pensamentos e crenças.
Parece ter sido o que Rhonda Cornum fez, quando foi feita prisioneira: controlou os seus pensamentos. Sendo verdade que os seus captores controlavam quase tudo, desde as horas a que se levantava e se deitava, o que comia e se comia, não podiam, contudo, controlar os seus pensamentos.
"O ladrão do vosso livre-arbítrio não existe", dizia Epícteto.