Este pretende ser um "espaço" público de partilha de ideias, um espaço de comunicação...

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Abr 09

 

  O mundo para Schopenhauer é o teatro do pecado, do sofrimento e da morte, no qual não há heróis e no qual o optimismo resulta ser um personagem estranho ao argumento. O mundo é pensado como um grande palco em que a representação que aquele oferece encerra em si um carácter trágico e dramático.

  A arte porém, afigura-se como um dos possíveis caminhos de libertação da aparência e do vazio em que o homem teima em estar enclausurado. Na contemplação de uma obra de arte, seja ela a música, a poesia, as artes plásticas, o homem eleva-se acima da sua personalidade, da sua individualidade, escapa à corrente instável dos fenómenos e renuncia ao conhecimento ligado ao princípio da razão.

  O artista ao emprestar-nos os seus olhos para observar o mundo, reconforta-nos das paixões e das necessidades, dos desejos e das misérias do querer.

  A música é considerada, por excelência, a verdade da arte, porque está para além das fórmulas da representação. É a arquitectura da intensidade. É a intensidade da Vontade. Esta Vontade é una e indivisível, porque a vontade segmentada resulta a luta de vários desejos e consequentemente a agressividade entre os indivíduos. O mundo é dor e sofrimento, fruto da obra do próprio homem. Só a contemplação estética o levará a fugir da infelicidade mundana.

  O escutar de uma peça musical eleva-nos para algures no infinito, para lá das aparências. Uma melodia musical pode-nos revelar o sentido mais íntimo das coisas e dar-nos a percepção de todos os acontecimentos possíveis, isto é, dá-nos o todo. Ao mesmo tempo que nos eleva à contemplação de tudo o que existe na sua unidade, dissolve o nosso eu e anula todo o sofrimento e dor próprio do mundo fenoménico.

  Enquanto que as outras artes falam de sombras, a música, pelo contrário, fala do ser. O mundo poderia designar-se como uma incarnação da música, daí que se compreenda porque é que um quadro, uma cena da vida ou a leitura de um poema se forem acompanhados por uma melodia musical, alcancem um sentido mais elevado. A música, como linguagem eminentemente universal, exprime de uma forma única, através dos sons, com verdade e precisão, o ser e a essência do mundo.   
Fonte - "O Mundo como Vontade e Representação"  e "Dores do Mundo"  de Schopenhauer 
                                              
Já agora sugiro que se escute o tributo que foi feito à nossa Amália, por alguns dos nossos artistas - The Gift, Plaza e Moonspell
 
publicado por Carlos João da Cunha Silva às 20:29

 

«A questão fundamental da ciência e da técnica contemporânea não é, pois, a de saber donde poderemos nós ainda tirar as quantidades de combustível e de carborante que necessitamos. A questão decisiva é: de que maneira poderemos nós dominar e dirigir essas energias atómicas, cuja ordem de grandeza ultrapassa toda a imaginação, de maneira a garantir que elas de um momento para o outro, e mesmo sem ser num acto de guerra, não nos escapem por entre os dedos e tudo destruam. (...) As organizações, aparelhos e máquinas do mundo técnico tornaram-se indispensáveis, mais para uns do que para outros. Seria insensato investir contra o mundo técnico e seria fazer prova de miopia querer condenar esse mundo como sendo obra do diabo. Nós dependemos desses objectos que a técnica nos fornece e que, por assim dizer, nos permitem aperfeiçoá-los incessantemente. No entanto, a nossa relação às coisas técnicas é tão forte que, em nosso entender, nos tornamos seus escravos. (...)

É possível dizer sim ao uso inevitável dos objectos técnicos e dizer não, de modo a que se impeça o monopólio, o falseamento, a deturpação e o esvasiamento do nosso ser. Contudo, se dizemos simultaneamente sim e não aos objectos técnicos, a nossa relação com eles não se tornará ambígua, incerta? Pelo contrário, (...). Admitimos os objectos técnicos no nosso mundo quotidiano e ao mesmo tempo deixamo-los de fora, quer dizer, deixamo-los repousar sobre si mesmos, como coisas que não têm nada de absoluto, mas que dependem de algo mais elevado que elas.»

HEIDEGGER, M.; Gelassenheit; Serenité in Questions III.

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 19:40

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