O mundo para Schopenhauer é o teatro do pecado, do sofrimento e da morte, no qual não há heróis e no qual o optimismo resulta ser um personagem estranho ao argumento. O mundo é pensado como um grande palco em que a representação que aquele oferece encerra em si um carácter trágico e dramático.
A arte porém, afigura-se como um dos possíveis caminhos de libertação da aparência e do vazio em que o homem teima em estar enclausurado. Na contemplação de uma obra de arte, seja ela a música, a poesia, as artes plásticas, o homem eleva-se acima da sua personalidade, da sua individualidade, escapa à corrente instável dos fenómenos e renuncia ao conhecimento ligado ao princípio da razão.
O artista ao emprestar-nos os seus olhos para observar o mundo, reconforta-nos das paixões e das necessidades, dos desejos e das misérias do querer.
A música é considerada, por excelência, a verdade da arte, porque está para além das fórmulas da representação. É a arquitectura da intensidade. É a intensidade da Vontade. Esta Vontade é una e indivisível, porque a vontade segmentada resulta a luta de vários desejos e consequentemente a agressividade entre os indivíduos. O mundo é dor e sofrimento, fruto da obra do próprio homem. Só a contemplação estética o levará a fugir da infelicidade mundana.
O escutar de uma peça musical eleva-nos para algures no infinito, para lá das aparências. Uma melodia musical pode-nos revelar o sentido mais íntimo das coisas e dar-nos a percepção de todos os acontecimentos possíveis, isto é, dá-nos o todo. Ao mesmo tempo que nos eleva à contemplação de tudo o que existe na sua unidade, dissolve o nosso eu e anula todo o sofrimento e dor próprio do mundo fenoménico.