A Filosofia pode ser encarada como um acto de liberdade. Segundo Nietzsche, a Filosofia constituiu um acto tão radical, tão inovador e tão rebelde que teve de vestir as roupagens do mito e da religião para não ser esmagada logo ao nascer. Há alguma verdade neste exagero de Nietzsche. Porque reinvidicar o próprio pensamento, só ceder perante a força da argumentação e não se deixar submeter por outro, só por ele ser mais poderoso, é, pura e simplesmente, começar a ser livre. Por isso, basta dar uma vista de olhos pela história para se comprovar como os filósofos que não pactuaram, por falta de vontade, com o poder têm sido perseguidos por aqueles que negam a liberdade. Desde Platão, que esteve para ser executado por um bando de piratas, até aos nossos dias. Pelo meio, houve muita cedência, muito pragmatismo para poder viver ou muita acomodação. No entanto, a essência da Filosofia, enquanto pensamento livre, é, pelo contrário, a liberdade de decidir e de actuar.
A Filosofia e a liberdade estão sempre unidas por um outro laço: a Filosofia ensina o indivíduo a pensar pela sua própria cabeça. Quer isto dizer que, à margem da aptidão cognitiva aplicada aos problemas da vida, o filósofo desenvolve aquilo a que costuma chamar-se capacidade de autocrítica.
SÁDABA, Javier, Filosofia Para Um Jovem, Editorial Presença