"Tal como o espaço, o tempo também não é, para o homem religioso, nem homogéneo nem contínuo. Há, por um lado, os intervalos de tempo sagrado, o tempo das festas (na sua grande maioria, festas periódicas); por outro lado, há o tempo profano, a duração temporal ordinária na qual se inscrevem os actos privados de significação religiosa. Entre estas duas espécies de tempo, existe, bem entendido, solução de continuidade, mas por meio dos ritos o homem religioso pode passar, sem perigo, da duração temporal ordinária para o tempo sagrado.
(...) O tempo sagrado é pela sua natureza própria reversível, no sentido em que é, propriamente falando, um tempo mítico primordial tornado presente. Toda a festa religiosa, todo o tempo litúrgico, representa a reactualização de um evento sagrado que teve lugar num passado mítico, no começo. Participar religiosamente de uma festa implica a saída da duração temporal ordinária, e a reintegração do Tempo mítico reactualizado pela própria festa."
ELIADE, Mircea, O Sagrado e o Profano