Pensam os homens e mulheres de maneira diferente sobre ética?
"A ideia de que homens e mulheres pensam de forma diferente tem tradicionalmente sido usada para justificar a subjugação de umas pelos outros. Aristóteles afirmou que as mulheres não são tão racionais como os homens, e, por isso, são naturalmente governadas pelos homens. Kant concordava, e acrescentou que por essa razão as mulheres "carecem de personalidade civil" e não devem ter voz na vida pública. Rousseau tentou suavizar a ideia ao sublinhar que homens e mulheres apenas possuem virtudes diversas; mas é claro que no final se verifica que as virtudes dos homens os tornam adequados para a liderança, enquanto as virtudes das mulheres as tornam ideais para a casa e a família.
Tendo em conta este pano de fundo, não surpreende que o florescente movimento feminista dos anos 1960 e 1970 tenha rejeitado em bloco a ideia de diferenças psicológicas entre mulheres e homens. A concepção dos homens como racionais e das mulheres como emocionais foi descartada como mero estereótipo. A natureza, afirmava-se então, não faz qualquer distinção moral ou mental entre ambos os sexos; e quando parece existir tais diferenças é apenas porque as mulheres foram condicionadas por um sistema opressivo a comportar-se de forma "feminina".
No entanto, mais recentemente as pensadoras feministas reconsideraram a questão, e algumas concluíram que as mulheres pensam de facto de maneira diferente dos homens. Mas, acrescentam, as formas femininas de pensar não são inferiores às dos homens; nem essas diferenças justificam subordinar alguém a outrém. Pelo contrário, a forma feminina de pensar contém intuições que têm faltado nas áreas de actividade de dominação masculina. (...) A ética é considerada uma candidata preferencial para este tratamento."
RACHELS, James, Elementos de Filosofia Moral, Gradiva, pp. 227-228