Este pretende ser um "espaço" público de partilha de ideias, um espaço de comunicação...

25
Nov 08

 

Saberemos nós hoje, melhor do que ontem, analisar e avaliar o que nos chega pelos media?

 

"(...) Quando um político sabe que está a falar para a TV, passa a mover-se num campo discursivo virtual em que a realidade é meramente um pretexto e o objectivo comunicacional a persuasão do espectador. A eficácia da persuasão mede-se na sondagem de popularidade do mês seguinte, afanosamente ecoada pela comunicação social. A verdade e a mentira não importam para aqui - a solidez de uma ficção não está nelas,  mas na fluência e na estética da narrativa. É natural, portanto, que esta estrutura de apresentação  dos factos deixe o espectador um pouco desarmado, a meio caminho entre o que é e o que não é, hesitante entre a credulidade e a desconfiança. Ouvir os políticos na TV tornou-se um exercício de tal modo ambíguo que precisamos de tradutores - de preferência de outros políticos, que são os mais aptos para conhecer as manhas que se encobrem pelo meio dos discursos explícitos. (...) Ortopedizam-nos a nossa visão do real através da insistência persuasiva, utilizando como arma a versatilidade discursiva.

A persuasão, quando é levada ao limite, roça a mentira. A mentira é o lugar que resulta da exploração sistemática da persuasão. (...) E é por isso que hoje a mentira, em política,  é infinita. E é também por isso que é impune - porque se confunde com a persuasão e esta com a habilidade discursiva. (...)

E é nisto que consiste a sua principal mentira: serve-se das pessoas concretas para legitimar jogos abstractos, traduzidos em última análise na retórica de palanque onde se esgrimem poderes afastados de nós."

Luís Fernandes; "A meia verdade da mentira", in Público

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 21:40

A posição de Espinoza

"Quanto a mim, considero livre uma coisa que existe e age unicamente pela necessidade da sua natureza; considero constrangida aquela que é obrigada por uma outra a existir e a agir de determinada maneira. (...).

Mas desçamos às coisas particulares criadas, que todas são determinadas a existir e a agir segundo uma forma precisa e determinada. (...) Uma pedra, por exemplo, recebe de uma causa exterior que a atira uma certa quantidade de movimento e, mesmo depois de acabar o impulso provocado pela causa exterior, a pedra continuará, necessariamente, a mover-se na medida em que todas as coisas são necessariamente determinadas a existir e a agir de dada maneira por uma causa exterior. 

Concebei agora (...) que a pedra, enquanto se move, sabe e pensa que faz todo o esforço possível para continuar a mover-se. Visto que tem consciência do seu esforço, a pedra julgará ser livre e que a continuação do movimento ocorre porque ela quer. 

Assim é a liberdade humana que todos os Homens se gabam de possuir, e que consiste unicamente no facto de os Homens terem consciência dos seus desejos e ignorarem as causas que os determinam.  Uma criança julga desejar livremente o leite... Um ébrio julga dizer, por decisão sua, aquilo que, quando voltar a estar sóbrio, quereria ter calado. (...) Este preconceito, sendo natural e congénito em todos os Homens, dificilmente será abandonado por estes. E, no entanto, a experiência ensina que se há coisas de que os Homens são pouco capazes é de controlar os seus desejos. De facto, mesmo constatando que, perante dois desejos contrários, vêem o melhor e executam o pior, continuam, entretanto, a acreditar que são livres (...)."

ESPINOZA, B., Lettre a G. H. Schuller 

(Noção de Determinismo)

publicado por Carlos João da Cunha Silva às 01:14

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