
A posição de Espinoza
"Quanto a mim, considero livre uma coisa que existe e age unicamente pela necessidade da sua natureza; considero constrangida aquela que é obrigada por uma outra a existir e a agir de determinada maneira. (...).
Mas desçamos às coisas particulares criadas, que todas são determinadas a existir e a agir segundo uma forma precisa e determinada. (...) Uma pedra, por exemplo, recebe de uma causa exterior que a atira uma certa quantidade de movimento e, mesmo depois de acabar o impulso provocado pela causa exterior, a pedra continuará, necessariamente, a mover-se na medida em que todas as coisas são necessariamente determinadas a existir e a agir de dada maneira por uma causa exterior.
Concebei agora (...) que a pedra, enquanto se move, sabe e pensa que faz todo o esforço possível para continuar a mover-se. Visto que tem consciência do seu esforço, a pedra julgará ser livre e que a continuação do movimento ocorre porque ela quer.
Assim é a liberdade humana que todos os Homens se gabam de possuir, e que consiste unicamente no facto de os Homens terem consciência dos seus desejos e ignorarem as causas que os determinam. Uma criança julga desejar livremente o leite... Um ébrio julga dizer, por decisão sua, aquilo que, quando voltar a estar sóbrio, quereria ter calado. (...) Este preconceito, sendo natural e congénito em todos os Homens, dificilmente será abandonado por estes. E, no entanto, a experiência ensina que se há coisas de que os Homens são pouco capazes é de controlar os seus desejos. De facto, mesmo constatando que, perante dois desejos contrários, vêem o melhor e executam o pior, continuam, entretanto, a acreditar que são livres (...)."
ESPINOZA, B., Lettre a G. H. Schuller
(Noção de Determinismo)